Blog
Transferência, Associação Livre e intepretação como forma de entendimento da Neurose histérica.
- 6 de dezembro de 2016
- Postado por Tania
- Categoria: Artigos
Por Paulo Bregantin.
Em Psicanálise é usado muito o termo transferência, pois para Freud é fundamental para a cura.
“A transferência é o deslocamento do sentido atribuído a pessoas do passado para pessoas do nosso presente. Esta transferência é executada pelo nosso inconsciente. Para a teoria freudiana, esse fenômeno é fundamental para o processo de cura.
Na Psicanálise, a transferência é um fenômeno que ocorre na relação entre o paciente e o terapeuta, quando o desejo do paciente irá se apresentar atualizado, com uma repetição dos modelos infantis, as figuras parentais e seus substitutos serão transpostas para o analista, e assim sentimentos, desejos, impressões dos primeiros vínculos afetivos serão vivenciados e sentidos na atualidade. O manuseio da transferência é a parte mais importante da técnica de análise.”
Isso é fundamentado através da experiência do atendimento, pois para se saber como acontece a transferência tanto o Analisando como o Analista devem passar pelo processo, não é possível vivenciar a transferência de forma teórica. É aí onde muito profissional esbarram com os ensinamentos Freudianos e analíticos, criticando assim a Psicanálise, pois na maioria dos cursos e graduações é solicitado somente uma preparação teórica para se exercer a função. Na Psicanálise o profissional tem que experimentar o processo. A experiência então torna-se fundamental para o processo analítico, quem não experimenta, não pode exercer a psicanálise em todos seus benefícios, ou seja, a transferência é na realidade a qualificação do profissional e, isso só pode acontecer dentro do setting de atendimento analítico, pois é ali onde conheceremos o inconsciente.
“Se o paciente coloca o analista no lugar do pai (ou da mãe), está também lhe concedendo o poder que o superego exerce o ego, visto que os pais foram, como sabemos, a origem do seu superego. O novo superego dispõe agora de uma oportunidade para uma espécie de pós-educação do neurótico,” (FREUD, 1930, p.49).
A transferência para o analista e o analisando é como uma troca pai e filho, filho e pai, claro com todas responsabilidades e adversidades que esse tipo de relacionamento acomete. É como se fosse um relacionamento onde o diálogo aparece e se transforma conforme a necessidade de cada um dessa relação/transferência, pois ambos serão acrescidos de conhecimentos e entendimentos de si mesmo e do outro. É aí que afirmo que a Psicanálise quando tem como base a transferência é um processo de envolvimento de amor, amor no sentido de troca de informações límbicas ou ressonância límbica. A transferência é em si a troca das cognições profundas e internalizadas em cada pessoa, tanto no analista como no analisando.
Mas, como a transferência pode ser efetuada e efetivada entre o Analista e o analisando? Em que momento do tratamento é perceptivo essa troca entre um e outro? Como que isso se manifesta? Essas perguntas podem ser respondidas quando pensamos na transferência em parceria intrínseca com a interpretação.
A interpretação é a forma como se manifesta a transferência, pois com ela sendo executada nas falas e nos gestos temos a fluência na psicanálise e no processo de entendimento e então o processo que chamamos “cura” ou entendimento da causa.
Freud afirma uma existência além do consciente, formalmente retira o aprendizado cartesiano do corpo e mente e, insere na vida do ser humano algo que se tornaria uma das maiores descobertas desde de Copérnico e Darwin, sim o inconsciente. E, é na “alma/inconsciente onde as nossas decisões e batalhas acontecem.
Quando em 1900 Freud lança a “interpretação dos sonhos” abriu-se novas possibilidades da aplicabilidade da “associação livre” como forma de interpretar. É sobre isso que a interpretação fala, sobre associação livre de ideias.
Uma forma simples de falar o que vem à mente se reprimir seja lá o que for. É no sonho onde a associação livre mais se manifesta, pois as forma oníricas são diferentes das cartesianas e, as vezes faltam as palavras para explicitar o que se quer falar, é ai onde surge o inconsciente, nos atos falhos, chistes, no que “cai” quando não se tem o que falar, no silêncio abrupto de algo que não imaginamos, porém, forçosamente falamos( com palavras ou sem elas).
Nos sonhos existem sempre algo oculto, que é condensado e deslocado tornando-se conteúdo para interpretação do analista e do analisando. O Sonhador é o melhor interprete para seus próprios sonhos, por isso, a função do analista é de interpretar o que a forma latente está sendo descrito de forma manifesta pelo analisando.
O analista NÃO interpreta o “sonho” mas sim o como o analisando está descrevendo o sonho e não o sonho em si, pois é na forma como é descrita que acontece a interpretação e, como consequência a transferência se manifesta simples e afoitamente entre o Analista e o Analisando.
A interatividade torna-se então algo factível e profícuo na psicanálise, pois estão sendo percebidos os pilares da psicanálise, ou seja, a transferência, a associação livre e a intepretação do que está sendo falado, percebido, sentido e manifesto de forma latente através dos atos falhos, dos chistes, dos lapsos de fala, de como a fala é dita.
A Psicanálise em função desses pilares se torna totalmente diferente das outras teorias de tratamento do paciente neurótico e até mesmo de alguns psicóticos. Pois a forma da impossibilidade de não se saber os diagnósticos e muito menos os prognósticos, cria-se uma expectativa para cada encontro e, é onde a transferência, a associação livre e a interpretação se manifestam.
No caso Dora onde Freud se utiliza desses três pilares ( Transferência, Associação Livre e Interpretação) fica evidente que o analista fala quando necessita e ouve quando necessita.
“Fragmento da Análise de um caso de histeria – Livro Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Volume VII – páginas 13 a 119.
Nesse caso Freud analisa Dora “ …acontecimentos na narrativa.
1882 – Nascimento de Dora.
1888 ( et. 6) – Pai tubérculo. Família muda-se para B________
1889 (et. 7) – Enurese noturna.
1890 ( et. 8) – Dispnéa.
1892 (et. 10) – Descolamento da retina do pai.
1894 ( et. 12) – Crise confusional do pai. Sua visita a Freud. Enxaqueca e tosse nervosa.
1896 ( et. 14) – Cena do beijo.
1898 ( et. 16) – ( Princípios do verão). Primeira visita de Dora a Freud. ( Fins de junho). Cena perto do lago ( invernos). Morte da tia. Dora em Viena.
1899 ( et. 17) – ( Março). Apendicite. (Outono). A família deixa B_____ e muda-se para a vila operária.
1900 ( Et. 18) – A família muda-se para Viena. Ameaça de suicídio. ( Outubro a dezembro). Tratamento com Freud.
1901 – (Janeiro). Escrita a história clinica.
1902 – (Abril). Última visita de Dora a Freud.
1905 – Publicação da história clínica.
Nesse caso fica evidente que Freud se utiliza desses três pilares da Psicanálise para tratar Dora. E, do descritivo das intepretações de Freud para Dora é uma prova que o sonho atua como a concretização dos desejos do inconsciente e, que através da associação livre e a interpretação é explicado os traumas infantis e como consequência o entendimento da histeria e da neurose.
Referencia:
Transferência na Psicanálise – Artigos de Psicologia.
FREUD, Sigmund. [1912]. A dinâmica da transferência. In:______ Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro, Imago. Vol. XII 1996 p. 111-119. (edição standard brasileira das obras psicológicas Sigmund Freud, Vol. 12).
FREUD, Sigmund. (1905). Fragmento da Análise de um caso de histeria in;_____ Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro, Imago Vol. VII p. 13-109 (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Vol. 7).
oi gente
gostei muito desse site, parabéns pelo trabalho. 😉
Prezada Renata, muito obrigado pelo seu comentário.